BRASÍLIA - A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que o grau de sucesso das medidas econômicas, para reduzir os impactos da crise provocada pelo coronavírus, e a extensão da quarentena serão determinantes para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Diante disso, o estudo Informe Conjuntural, divulgado essa semana, traça três cenários para 2020: um pessimista, um base e um otimista. Em todos eles, a economia brasileira encolherá, refletindo a retração já observada em março, que se mostrou forte o suficiente para reverter o resultado positivo do primeiro bimestre.
O cenário mais provável é o base, em que a soma de todos os bens e serviços produzidos no Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB), cai 4,2% - a previsão pré-coronavirus, feita em dezembro de 2019, era de crescimento de 2,5% neste ano. Essa queda ocorrerá se as políticas de auxílio econômico forem suficientes para impedir a insolvência de um número grande de empresas e evitar, de forma significativa, a redução da renda das famílias durante o isolamento social que – neste cenário – começaria a ser flexibilizado neste mês de maio, o que é pouco provável porque a curva ainda está crescente.
“A expectativa é de que as medidas econômicas para enfrentar a crise vão, neste cenário, possibilitar uma recuperação mais rápida, impedir a falência de um grande número de empresas e o aumento significativo do desemprego, além de reduzir os impactos sobre problemas logísticos, falta de insumos e sobre o emprego e, assim, possibilitar uma recuperação mais rápida”, explica o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
O PIB industrial vai recuar 3,9% neste ano em relação ao ano passado em um cenário base. Em um cenário pessimista, a queda será de 7%. No melhor das hipóteses, espera-se retração de 1,8%.
Cenário traz desafios para a retomada da economia- Mesmo assim, esta simulação prevê que não será possível evitar totalmente o fechamento de empresas, a queda do faturamento e dificuldade de acesso ao crédito, o que tornará os empresários mais cautelosos, com efeitos negativos diretos sobre o PIB. Há também o fato de o comércio internacional ter sido bastante afetado pela pandemia, o que dificultará o crescimento das exportações brasileiras. Esse cenário também depende da evolução da pandemia, pois ainda não se sabe se o avanço do coronavírus vai permitir o relaxamento das medidas mais duras de distanciamento social.
Na avaliação da CNI, o Estado precisa continuar na busca pela redução da dívida pública, comprometido com o equilíbrio fiscal e com o controle da inflação, para aumentar a confiança no país e a atração de investimento. Construir um novo ambiente de negócios. O governo terá o desafio, ainda, de conciliar essas metas com uma política fiscal expansionista, ainda que controlada, com redução da carga tributária e aumento dos investimentos públicos.
“O primeiro passo é manter a agenda da competitividade. Para sair da crise de forma sustentada, o país precisa, mais do que nunca, eliminar o Custo Brasil, com uma reforma tributária que crie um sistema mais eficiente e menos complicado”, explica Robson Braga de Andrade. Essa agenda, ainda que apresente poucos resultados de curto prazo, é fundamental para a atração de investimentos e para o crescimento de longo prazo. Se as medidas econômicas não forem eficazes, o PIB deste ano recuará 7,3% - O Informe Conjuntural mostra que, se as medidas de auxílio econômico se mostrarem insuficientes para impedir uma redução forte na renda das famílias e uma falência generalizada de empresas, a queda do PIB brasileiro será de 7,3% ou até mais.
A crise provocada pelo coronavírus atinge o Brasil em um momento delicado. O país ensaiava a recuperação de uma retração que derrubou o PIB em mais de 7% até 2017, resultou em mais de 12 milhões de desempregados no início de 2020 e deixou famílias e empresas em situação financeira debilitada.
Maranhão - Com a crise deflagrada pela COVID-19, afetando a economia em todas as suas frentes, o Maranhão não ficará imune a esse desastre, que, em termos de impacto, supera, de longe, os números negativos da crise de 2008/2009 somados ao período recessivo de 2015/2016. Agrava a perspectiva o fato de que o estado, a exemplo do Brasil, desenhava uma recuperação econômica que pudesse sustentar um crescimento a um ritmo maior do que o do Nordeste e do país, como vinha acontecendo.
Essa expectativa, todavia, foi abafada pelo avanço rápido da COVID-19 que levou as autoridades governamentais à decretação de medidas de isolamento social, proibindo a circulação das pessoas e suspendendo atividades produtivas importantes, as quais tiveram que restringir o emprego e a renda. Este isolamento social se traduziu em intensa queda de demanda, de cancelamento de pedidos ou encomendas por parte das empresas e restrições na capacidade de cumprimento, por elas, de obrigações rotineiras como salários, aluguel, fornecedores, contas de energia elétrica etc.
No estado do Maranhão, onde as atividades de comércio e serviços respondem por cerca de 70% do PIB, um isolamento social com lockdown, como decretado, impacta fortemente o produto interno bruto e, mais que isso, expande o endividamento das famílias e também das empresas, face à queda de faturamento e às dificuldades de acesso ao crédito e enfraquecimento da demanda.
A CNI projeta três cenários para a economia brasileira nesse 2020, mesmo no mais otimista a perspectiva é ruim. Em todos os cenários, há a premissa de que a COVID-19 esteja inteiramente sob controle ao final de julho, o que ainda é apenas uma probabilidade.
No cenário base, a CNI prevê uma queda no PIB da ordem de 4,2% (o Fundo Monetário Internacional – FMI – calcula -5,3%) e no PIB industrial de 3,9%, com todo o ambiente econômico voltando à “normalidade”. Se esta não acontecer, o baque será muito maior.
“O Maranhão, com a curva do coronavírus se expandindo numa faixa sem controle, não se espera qualquer taxa de crescimento positiva no produto interno bruto e a situação só não será mais grave porque a produção estadual de grãos deverá crescer em torno de 9,6% a 10,0% este ano. Nesse contexto de coronavírus, o fluxo de comércio internacional do Maranhão já foi fortemente afetado e isto se reflete também no comportamento do PIB. As exportações, por exemplo, no período de janeiro a abril deste ano, caíram 15,9%, alcançando US$ 914,4 milhões e gerando um superávit de apenas US$ 55,5 milhões, mesmo com uma queda de 15,6% nas importações”, destaca o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão, Edilson Baldez das Neves.
Atenua, ainda, a regressão econômica o auxílio emergencial de R$ 600,00 a ser pago pelo governo federal (saiu a primeira parcela), durante 90 dias. Isto manterá alguma demanda ativa, uma vez que atende a mais de 60% da população estadual em condição de vulnerabilidade social.
PIB brasileiro cairá 0,9% neste ano em cenário otimista, o menos provável - Em um cenário otimista, embora menos provável, as medidas econômicas de proteção da renda e de acesso ao crédito vão evitar que os efeitos econômicos de março e abril tenham impactos permanentes, com queda significativa do emprego e da renda e que não desestruturem os canais de distribuição e acesso aos insumos.
Nesse cenário os impactos da crise são mais brandos do que no previsto no cenário base e, assim, os estímulos fiscais e monetários serão capazes de impulsionar a economia. Por fim, os agentes econômicos, famílias e empresários devem abandonar rapidamente uma postura mais cautelosa tomada durante o período mais severo da crise.
Dessa forma, a recuperação será mais rápida, com a atividade, já em agosto, de volta ao nível de fevereiro de 2020. A queda do PIB no primeiro trimestre, nesse cenário, será de 2,0%, enquanto no segundo alcançará 3,8%.
Avaliação das medidas emergenciais para combater crise gerada pelo coronavírus- Uma série de medidas foram adotadas pelo governo federal para enfrentar a crise de saúde pública e econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus. A questão agora é garantir que essas medidas sejam efetivas e tenham a intensidade necessária. Além disso, ainda faltam novas medidas para que as empresas tenham acesso aos novos recursos disponíveis para financiamento.
Em momentos de elevado risco, como o atual, as instituições financeiras aumentaram as exigências de garantias para realizar as operações, dificultando para as empresas menores. Para a CNI, a saída para o problema do acesso ao crédito exige que o risco seja assumido pelo Tesouro Nacional, como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos. “É o único modo de se minimizar pedidos de falência de uma grande quantidade de empresas e o desaparecimento dos empregos”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.
ANÁLISE DOS EFEITOS DA PANDEMIA SOBRE OS PRINCIPAIS INDICADORES DA ECONOMIA
Emprego e renda
Impacto da crise sobre o emprego e a renda pode se estender para 2021 e será mais grave para trabalhadores informais e por conta-própria, mesmo com auxílio emergencial. Em um cenário base, taxa de desemprego em dezembro deste ano estará em torno de 12,5%, com acréscimo de cerca de um milhão de pessoas desocupadas em relação ao trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2020.
Inflação, juros e crédito
Apesar das medidas de ampliação da liquidez implementadas pelo Banco Central, estimadas em R$ 1,2 trilhão, é preciso buscar soluções adicionais para que o crédito chegue a tempo às empresas de segmentos e portes mais vulneráveis. O IPCA ficará abaixo do piso da meta de inflação, de 2,5%, neste ano e seja 1,97%. A expectativa da CNI é de que o ciclo de redução da Selic tende a continuar.
Política fiscal
Espera-se uma deterioração do quadro fiscal para o ano de 2020, com déficit superior ao estipulado pelo Orçamento deste ano e despesas que superam o limite estabelecido pela regra do teto dos gastos. Resultado do governo federal não é suficiente para conter aumento do déficit primário do setor público consolidado no início deste ano, com aumento do endividamento público.
Expectativa de saldo comercial e de taxa de câmbio
A taxa de câmbio se manterá em patamar elevado nos próximos meses. O cenário para as exportações brasileiras não é favorável: os preços das commodities deverão se manter baixos. Assim, a evolução do valor das exportações em 2020 dependerá mais do aumento do volume, o que devido à expectativa de queda no volume de comércio mundial, é um resultado mais incerto.
Acesse aqui o Informe Conjuntural da CNI - 1º trimestre de 2020