Com um currículo que o posiciona na vanguarda da inteligência artificial, o Dr. Juan Pablo Boeira, Pós-Doutor em IA e PhD em Inovação e IA, com formações em Harvard e MIT, é uma voz indispensável no cenário tecnológico global. Reconhecido por quatro vezes como Profissional de Inovação do Ano no Brasil, Personalidade do Ano de IA e o primeiro Top Voice AI do LinkedIn no país, sua expertise é chancelada por mais de 60 prêmios e reconhecimentos internacionais. Para aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos, o Dr. Juan Pablo Boeira (PhD) estará presente na 6ª edição da Expo Indústria Maranhão no dia 5 de outubro, para a palestra "Acorde para a IA: O futuro não perdoa os despreparados!". Nesta entrevista, mergulharemos nas percepções de um dos maiores especialistas em IA do Brasil, desvendando as complexidades e o futuro de uma tecnologia que redefine nossa realidade.
No senso comum, falamos em IA. Na prática, sabemos que são muitas inteligências artificiais, no plural. O que mudou nos últimos anos nesse campo, já que a IA não é algo novo?
Dr. Juan Pablo Boeira - É uma observação muito precisa. O termo "Inteligência Artificial" no singular, como usado no senso comum, de fato mascara uma realidade muito mais complexa e diversa. Na prática, lidamos com um espectro de 39 "inteligências artificiais" especializadas. A IA não é um conceito novo; suas raízes remontam à década de 1950 com pioneiros como Alan Turing e John McCarthy. O que mudou drasticamente nos últimos anos, especialmente desde 2012, não foi a ideia fundamental, mas a convergência de três fatores que catalisaram uma revolução: o aumento exponencial do poder computacional, com a disponibilidade de hardware especializado como as GPUs; a digitalização massiva que gerou o Big Data, o "alimento" essencial para treinar os modelos; e os avanços em algoritmos, como o desenvolvimento de novas arquiteturas de redes neurais, como os Transformers, que permitiram que as máquinas compreendessem o contexto e as nuances da linguagem humana de uma forma muito mais sofisticada. Portanto, saímos de uma era de IA simbólica para uma era de aprendizado de máquina, onde as máquinas aprendem diretamente a partir dos dados. As três grandes viradas recentes foram os modelos fundacionais multimodais, a arquitetura de agentes e agentics em modelo MCP e a comoditização da IA, que passou de P&D para uma plataforma de negócio.
Fala-se muito que estamos na era da Indústria 4.0. Você, por outro lado, é taxativo em dizer que vivemos a revolução tridimensional. Pode nos explicar esse conceito e as implicações para as empresas?
Dr. Juan Pablo Boeira - Na realidade, já evoluímos faz algum tempo já da Indústria 4.0 para o que eu chamo de Revolução Tridimensional, que é a união da Revolução Tecnológica, com a Revolução Social e a Revolução da Informação. Se olharmos somente para o conceito de Indústria 4.0, acaba sendo uma visão limitada. Na Revolução Tridimensional, estamos vivenciando um paradigma que redefine a interação entre os mundos físico, digital e biológico. Essa revolução se apoia em três vetores que avançam juntos e se potencializam: Inteligência (39 tipos de IA), Autonomia (robótica, visão computacional, IoT) e Energia/ESG (descarbonização, eficiência). A abordagem, que desenvolvi em minha tese do Doutorado, "O design na era dos algoritmos", integra Tecnologia, Design Estratégico e Inovação Ética. As implicações para as empresas são profundas: não se trata mais apenas de otimizar uma linha de produção, mas de criar ecossistemas inteiros onde um produto é projetado no mundo digital, fabricado por robôs no mundo físico e, potencialmente, integrado ao nosso corpo no mundo biológico. Empresas que não pensarem de forma tridimensional correrão o risco de se tornarem obsoletas, pois seus concorrentes criarão valor em uma escala e escopo completamente novos. A implementação dessa abordagem pode elevar a produtividade em até 40%.
Para muito além da IA estreita que conhecemos hoje, você fala da IA Geral e da Superinteligência, capaz de fazer qualquer coisa melhor do que qualquer ser humano. O que tem de ficção científica nessa afirmação? Se essa tese se confirmar, qual papel restará para nós meros mortais?
Dr. Juan Pablo Boeira - Primeiramente, é importante ressaltar que não se trata de ficção científica, Mas sim, uma projeção baseada em tendências reais. A IA Geral (AGI) é um sistema que pode realizar qualquer tarefa intelectual humana, enquanto a Superinteligência (ASI) supera os humanos em todos os aspectos. Pesquisadores como Nick Bostrom e Ray Kurzweil discutem isso há anos, e com os avanços recentes, estamos mais perto do que nunca. A ficção está no timing. Quando a minha tese se confirmar, nosso papel mudará de "executores" para "diretores", "curadores", "éticos" e "criadores de propósito". Nossa função não será mais competir com a IA em tarefas de produtividade, mas sim definir os objetivos, fazer as perguntas certas, gerenciar sistemas complexos e focar no que nos torna unicamente humanos: empatia, liderança, colaboração, arte e governança. O desafio para nós, "meros mortais", é guiar essa evolução. Eu defendo que a IA amplifique a humanidade, não a substitua.
Mais especificamente, como profissionais e empresas devem se preparar para os próximos dois anos? Quais profissões vão desaparecer e quais serão criadas? As empresas brasileiras estão em qual nível de adoção da IA? Conseguem extrair valor dessa tecnologia ou ainda estão no ChatGPT?
Dr. Juan Pablo Boeira - Para os próximos dois anos, a preparação deve ser imediata. Profissionais devem adotar a tríade: negócio (KPI) → processo (SIPOC) → agente (IA+ferramentas) e aprender a usar a IA como uma ferramenta, desenvolvendo habilidades em prompting, design de fluxos e avaliação de resultados. Tarefas repetitivas como entrada de dados, atendimento roteirizado e análise descritiva básica estão em risco. Novas profissões como Engenheiro de Prompt, AI Product Manager, AI Auditor e Designer de Processos com IA estão surgindo. No Brasil, o nível de adoção é heterogêneo. Temos ilhas de excelência nos setores financeiro e de agronegócio. No entanto, um estudo que liderei e foi destacado na EXAME mostra que 70% das empresas brasileiras usam IA básica como o ChatGPT para tarefas simples, e apenas 20% extraem valor estratégico. O grande desafio é ir além do "teatro da inovação" e integrar a IA nos processos centrais do negócio, medindo o ROAI (Return on AI) e investindo em dados próprios e parcerias com startups.
Você afirmou em uma entrevista que ‘estamos ensinando as máquinas de forma errada’. Na sua opinião, quais são os principais gaps nas políticas públicas brasileiras para fomentar e regular o uso seguro e ético da IA?
Dr. Juan Pablo Boeira - Sim, afirmei isso porque estamos tratando IAs como "caixas pretas", treinadas com dados massivos sem foco em eficiência e ética, o que amplifica nossos vieses e preconceitos. No Brasil, as políticas públicas enfrentam desafios significativos. Há um foco excessivo na regulação e pouco no fomento. Precisamos de mais investimento em pesquisa, infraestrutura e talentos. Falta uma Estratégia Nacional Coesa e um investimento massivo em educação para desenvolver o pensamento computacional desde o ensino fundamental e não ficarmos reféns dos “Gurus do Instagram” que prestam um desserviço para a humanidade pensando única e exclusivamente em “caçar likes” e engajamento, em vez de orientar corretamente. Pois infelizmente, a grande maioria começou a estudar IA “ontem no Hype” do lançamento do ChatGPT 3,5 em 2022 e não tem base sólida real para trazer a público o que é relevante sobre IA. Em relação a regulação, deve ser baseada em riscos, e precisamos de um Marco Legal da IA específico, inspirado na UE, para combater deepfakes e discriminação algorítmica. Venho sugerindo a criação de um fundo nacional de IA ética, a adoção de diretrizes de governança alinhadas à ISO/IEC 42001 e a implementação de sandboxes regulatórios setoriais. Sem isso, o Brasil perde a soberania digital.
Por fim, quais as suas expectativas para participar da 6ª edição da Expo Indústria Maranhão e o que o público pode esperar da sua palestra intitulada “Acorde para a IA: O futuro não perdoa os despreparados!”?
Dr. Juan Pablo Boeira -Minhas expectativas para a 6ª edição da Expo Indústria Maranhão, de 2 a 5 de outubro de 2025, em São Luís, são as melhores possíveis. Eventos como este são vitais para descentralizar a discussão sobre tecnologia e inovação. O público da minha palestra, “Acorde para a IA: O futuro não perdoa os despreparados!”, pode esperar uma mensagem direta, provocativa e prática. Vou entregar método, casos reais e ferramentas acionáveis. Abordarei o senso de urgência, o mapa da mina para aplicar a IA nos negócios do Maranhão e do Brasil, e um kit de sobrevivência com as habilidades necessárias para prosperar. Meu objetivo é que cada participante saia com um plano claro e a energia para começar a construir o futuro imediatamente. Quem aplicar o playbook na semana seguinte já enxergará ganho. Venham preparados para acordar para essa revolução!